ESPECULAÇÃO PRECOCE: DESTACA NENA CABRAL
O interessante nessa polêmica em
torno do garoto que foi amarrado a um poste no Rio é que, como em toda disputa
ideológica, as pessoas já sacam suas respostas antes mesmo de formularmos uma
pergunta.
Para a esquerda, condições
socioeconômicas como pobreza, desemprego, desigualdade e educação são os
principais fatores a explicar a criminalidade. Já para a direita, delinquência
se resolve é com polícia.
Precisamos nos conformar que o
cérebro abusa mesmo dos automatismos heurísticos. O problema surge quando se
considera que muitas questões relativas à criminalidade têm respostas empíricas
estabelecidas, mas nossas convicções políticas fazem com que não as
enxerguemos.
Para desgosto da esquerda, é fraco o
elo entre economia e violência, como mostra Steven Pinker em "Melhores
Anjos". Dados de EUA, Canadá e Europa Ocidental revelam que melhoras
econômicas quase não têm efeito sobre as taxas de homicídios. Há, isto sim, uma
correlação bem modesta entre os índices desemprego e os crimes contra o
patrimônio.
A desigualdade se sai um pouco
melhor. Ela até que prediz os índices de violência quando se comparam países,
mas fracassa em apontar tendências dentro da mesma nação. É pouco provável,
portanto, que haja aqui uma relação causal. Mais razoável imaginar que falhas
institucionais que produzem excesso de desigualdade gerem também violência.
A solução da direita também traz
problemas. É claro que, em algum nível, melhorar o policiamento reduz crimes.
Mas isso só funciona até certo ponto. Se você o excede, desperdiça dinheiro
público e estraga inutilmente a vida de um monte de gente.
Os EUA, por exemplo, adotaram a
tolerância zero nos anos 90 e reduziram o crime. Mas os índices de homicídio do
Canadá, que já eram bem menores que os dos EUA, seguiram as mesmas curvas sem
que o país tenha sucumbido à histeria.
Fonte: Folha de S.Paulo
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