COLUNA DO NENA CABRAL - QUINTA-FEIRA, 24 DE ABRIL DE 2014
CALÇAS E
SAIAS
Uma diarista, Ana Cristina
Silva Torres, moradora de Rio das Pedras (RJ), está proibida de frequentar as
aulas do ensino médio de um colégio local por se recusar a usar as calças
compridas do uniforme, exigidas pela direção. Ana Cristina alega ser evangélica
e que só se sente bem de saia. A escola não abre mão do seu padrão de uniforme
e ameaça cancelar a matrícula da estudante.
Há uma curiosa inversão de
valores quanto a essa peça de roupa na mulher. Até há menos de 50 anos, as
saias eram o padrão e as calças compridas, a exceção. Mulheres não iam de
calças compridas ao banco, ao escritório e muito menos à igreja. Elas lhes
separavam as pernas, o que, por qualquer motivo, não parecia
"decente". Veja algumas das mulheres mais bravas e decididas da
história: a heroína Anita Garibaldi, a escritora Gertrude Stein, a cangaceira
Maria Bonita, a gângster Bonnie Parker, a primeira-ministra Golda Meir. Estão
de saia em todas as imagens que se conhecem delas.
Minhas colegas do primeiro ano
de Ciências Sociais na antiga Faculdade Nacional de Filosofia, em 1967, no Rio,
foram das primeiras a desafiar esse tabu --uma delas ia não só de calças
compridas, como de macacão. E, se fossem de saia, é claro que se tratava de uma
minissaia. Estavam também entre as primeiras no Brasil que puderam comprar
pílulas anticoncepcionais sem receita médica.
Não quero entrar no mérito
dessa questão entre a aluna e a escola de Rio das Pedras. O que me esmaga é que
Ana Cristina, que tem 37 anos, foi analfabeta até os 31. Em criança, seu sonho
era se formar e ganhar um diploma, mas seus pais não a deixaram estudar. Muito
depois, já casada, aprendeu a ler e a escrever, e resolveu continuar para
acompanhar os estudos de suas duas filhas.
É um sonho muito bonito para
ser interrompido por uma querela tão ridícula quanto cruel.
Fonte: Folha de S.Paulo
ABORTO,
ELEIÇÃO E VIOLINISTAS
É
só as eleições se aproximarem para os principais candidatos darem início a um
concurso de coroinha e ver quem fica melhor com o eleitor religioso. O lance
mais recente desse espetáculo foi dado por Eduardo Campos, que se deslocou a
Aparecida para dizer que é contra o aborto.
É
claro que Campos, como cidadão e como político, tem o direito de posicionar-se
da forma que melhor lhe convier, mas, neste caso, deveria ter a decência de
riscar o termo "socialista" do partido que comanda, já que a defesa
do direito das mulheres de decidir se vão levar em frente uma gravidez é uma
bandeira clássica desse movimento. Um socialista contra o aborto soa quase tão
mal quanto um padre a favor da prática.
Não
é, porém, da inconsistência ideológica dos partidos que eu queria falar hoje,
mas sim do aborto.
Uma
argumentação provocante em sua defesa é o experimento mental proposto pela
filósofa Judith Jarvis Thomson: Uma bela manhã você acorda e constata que foi
cirurgicamente ligado a um famoso violinista. É que ele sofre de uma doença
fatal dos rins e você é a única pessoa do planeta com tipo sanguíneo compatível
com o dele. Por isso, a Sociedade dos Amantes da Música o sequestrou e realizou
o procedimento que coloca os seus rins para filtrar o sangue de ambos. A boa
notícia é que, após nove meses, o virtuose terá condições de viver por conta
própria e vocês serão separados.
O
ponto de Thomson é que você não tem nenhuma obrigação moral de manter-se ligado
ao violinista e, assim, garantir que ele viva. Fazê-lo é até meritório, um
gesto de abnegação, mas de modo algum um dever.
O
interessante no argumento da filósofa é que o feto é reconhecido como um ser
independente e titular de direitos plenos, como gostam os adversários do
aborto. Mas ele mostra que, ainda assim, é possível construir um bom caso em
favor da autonomia da mulher.
Fonte: Folha de S.Paulo
DENTRO D’ÁGUA
Moradores da Rua Corretor José
Pedro da Silva, no Janga, sofrem com o descaso da Prefeitura de Paulista. Nem
começou ainda o inverno brabo e a via já fica nesta situação de calamidade,
detona Rogério Alves.
Fonte: Folha de Pernambuco
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